Medicina Integrativa avança no Brasil e muda a forma de entender saúde

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Práticas integrativas no SUS cresceram 70% em dois anos e hoje fazem parte da rotina de milhões de brasileiros; OMS reforça diretriz global para integrar abordagens tradicionais e complementares aos sistemas de saúde.

A Medicina Integrativa, abordagem que reúne terapias complementares à medicina convencional, vem ganhando espaço no Brasil nos últimos anos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2024, foram registrados 7,16 milhões de atendimentos em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) na rede pública, um aumento de 70% em relação a 2022. No mesmo período, o número de pessoas atendidas cresceu de 5 milhões para mais de 9 milhões, o que representa expansão de 83% no acesso.

As práticas fazem parte da Política Nacional de PICS no SUS desde 2006 e incluem recursos terapêuticos como acupuntura, fitoterapia, meditação, auriculoterapia, reiki, yoga e práticas corporais, além de estratégias de orientação sobre sono, alimentação e manejo do estresse. A proposta não é substituir tratamentos convencionais, mas complementá-los, sobretudo na atenção primária e em condições crônicas.

Integração ao cuidado

A medicina integrativa parte da compreensão de que fatores como alimentação, sono, ambiente social e respostas emocionais influenciam processos fisiológicos, como inflamação, função imunológica e regulação hormonal. Por isso, o foco não é apenas na doença, mas na forma como a pessoa vive.

O especialista em Medicina Integrativa Valmir Ferreira explica essa mudança de perspectiva:

“A saúde não é apenas ausência de doença. Sono irregular, alimentação inadequada, estresse prolongado e isolamento social afetam diretamente o funcionamento do organismo. Se tratamos apenas o sintoma, lidamos com uma parte muito pequena do quadro.”

No setor privado, cresce o número de clínicas e consultórios que estruturam programas de acompanhamento contínuo. Esses programas incluem orientação nutricional, práticas de respiração, rotinas de organização do sono, monitoramento de marcadores metabólicos e estratégias para redução gradual de estresse.

Em 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Estratégia Global para Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa 2025–2034, orientando países a fortalecerem a regulação, a formação e a produção científica na área. Segundo a OMS, 76% da população mundial que utiliza práticas integrativas o faz no contexto de doenças crônicas, e 68% as utiliza para prevenção.

O documento recomenda que os sistemas de saúde integrem terapias complementares de forma gradual e baseada em evidências, priorizando segurança, critérios de indicação e acompanhamento profissional.

No Brasil, a expansão das PICS ocorre principalmente na Atenção Primária, onde há maior proximidade com o cotidiano dos usuários. Em 2024, foram 3,19 milhões de atendimentos nessa etapa do cuidado, um aumento de 67% em dois anos. Já nos serviços de média e alta complexidade, foram 3,95 milhões de procedimentos no período, crescimento de 73%.

Atualmente, mais de 8 mil unidades de saúde oferecem práticas integrativas no país, distribuídas em aproximadamente 54% dos municípios.

Algumas práticas registraram crescimento acima da média:
• Yoga: +290%
• Arteterapia: +271%
• Aromaterapia: +181%
• Práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa: +208%
• Auriculoterapia: +102%

Esses dados indicam ampliação não apenas da oferta, mas também da diversidade de práticas disponíveis. O avanço da Medicina Integrativa aponta para uma reorganização progressiva do cuidado no Brasil. Se antes o foco estava quase exclusivamente na doença instalada, a tendência é adotar um modelo mais preventivo e contínuo, no qual a pessoa participa ativamente do processo de cuidado.

Valmir sintetiza essa virada:

“O que está mudando não é apenas o tratamento. É a ideia de que o cuidado começa antes da doença. Isso exige tempo, acompanhamento e um olhar mais amplo sobre como cada pessoa vive.”

A expansão requer formação adequada de profissionais, protocolos clínicos mais claros e produção de evidência científica contínua. Outro desafio é reduzir desigualdades regionais, já que a oferta ainda é maior em cidades de médio e grande porte.

Apesar disso, especialistas apontam que o movimento tende a se consolidar, principalmente entre pessoas com doenças crônicas, equipes de atenção primária e programas de prevenção ligados à longevidade.

Fonte para entrevista:
Valmir Ferreira — especialista em Medicina Integrativa
Contato via assessoria

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