fala em português em Cannes mostra reconhecimento

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M. M. Izidoro

Por que isso importa tanto?

Porque quando falamos em português, especialmente em espaços que historicamente não nos pertencem, estamos fazendo muito mais do que traduzir palavras. Estamos carregando séculos de cultura, de resistência, de jeitos únicos de ver o mundo que só existem na nossa língua.

Tem coisas que não cabem em outras línguas. Tem jeitos nossos de sentir saudade que o inglês não consegue traduzir. Tem nossa maneira de falar de amor, de família, de comunidade, que o francês não alcança completamente. Tem nossa forma de contar histórias, com nossos causos, nossas gírias, nossos silêncios entre as palavras, que se perde quando a gente tenta ser outra coisa.

E é essa maneira de se expressar e de ver o mundo que faz o nosso cinema e a nossa música produzirem alguma das maiores obras do planeta.

E não estou dizendo que é errado falar outras línguas. Pelo contrário. O próprio Kleber mostrou como é bonito transitar entre elas, usar cada uma no seu momento certo. Mas o que me chamou atenção foi ele não ter esquecido de onde veio, não ter achado que para ser reconhecido mundialmente precisava deixar sua origem na porta.

Isso me lembra de quantas vezes eu mesmo já fiz isso. Quantas vezes, em situações que eu achava importantes, eu tentei soar mais “internacional”, mais “sofisticado”, ignorar meu sotaque e minha história, deixando de lado jeitos de falar que eram genuinamente meus. Como se o que vinha de mim naturalmente não fosse bom o suficiente.



Fonte UOL

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