O papel da mulher na transformação do setor energético: da perfuração ao hidrogênio verde

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Em um setor tradicionalmente técnico e masculino, a presença de mulheres tem ganhado protagonismo não apenas em número, mas em qualidade e influência

Para entender melhor como essa transformação vem ocorrendo nas frentes operacionais e estratégicas do setor energético, a Gazeta de Brasília conversou com Rafaela Ouverney, engenheira de produção com mais de uma década de experiência offshore, que atuou em empresas como Schlumberger, Petrobras, Ensco e Diamond Offshore. Com formação internacional e atuação técnica de alto impacto, Rafaela é hoje uma das vozes femininas mais preparadas para discutir o futuro da energia no Brasil e no mundo.

Confira a entrevista:

1. Rafaela, você começou sua carreira muito jovem e dentro de uma indústria historicamente dominada por homens. Como foi esse processo de entrada e construção de autoridade no setor offshore?
“Foi um desafio desde o início. Comecei como jovem aprendiz aos 16 anos em uma empresa de perfuração. Eu vinha de uma realidade social simples e de um ambiente onde mulheres eram minoria. Mas sempre tive foco e soube que precisaria de preparo técnico e resiliência para me destacar. Cada conquista veio com muito estudo, entrega e fé.”

2. Hoje fala-se muito sobre ESG. Como você enxerga a integração desses princípios às rotinas da engenharia offshore?
“ESG precisa deixar de ser um setor isolado e passar a fazer parte do planejamento técnico e das decisões operacionais. Já estamos vendo tecnologias sendo aplicadas para redução de impacto ambiental, melhoria da segurança e práticas de governança mais sólidas. Na prática, isso exige que engenheiros e gestoras estejam preparados para dialogar com todas essas frentes.”

3. Como você enxerga o papel da mulher nessa nova fase do setor energético, especialmente com a chegada de tecnologias mais limpas, como o hidrogênio verde?
“A mulher tem um papel essencial nessa transição. Temos uma capacidade natural de integração, planejamento e visão sistêmica. O avanço do hidrogênio verde, das energias renováveis e da digitalização traz oportunidades para perfis diversos e preparados. E nós estamos prontas para ocupar esses espaços.”

4. Você tem experiência em SMS, planejamento logístico e gestão de contratos. Como essas competências ajudam na construção de operações mais sustentáveis e eficientes?
“Essas áreas são fundamentais. Planejamento bem feito reduz desperdício. Logística inteligente evita retrabalho e aumenta a segurança. E gestão de contratos alinhada com boas práticas ESG garante transparência e previsibilidade. É uma engrenagem.”

5. Qual conselho você daria para jovens mulheres que desejam ingressar na engenharia e, mais especificamente, no setor energético?
“Estudem, se preparem, busquem excelência e não tenham medo. O setor precisa de mulheres técnicas, líderes e conscientes. A energia do futuro também depende de quem está por trás dos projetos. E há espaço para todas que quiserem fazer a diferença.”

Rafaela Ouverney representa uma geração de profissionais que combina preparo técnico, visão estratégica e compromisso com a transformação. Sua trajetória inspira e reafirma que o futuro da energia será cada vez mais colaborativo, diverso e eficiente.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), apenas 22% da força de trabalho no setor energético global é composta por mulheres. No Brasil, segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro), menos de 18% dos cargos técnicos e operacionais no setor de óleo e gás são ocupados por mulheres. Ainda assim, a participação feminina tem crescido ano a ano, especialmente em áreas ligadas à sustentabilidade, inovação e governança.

Cada vez mais, a presença da mulher deixa de ser um elemento de inclusão simbólica para se consolidar como pilar estratégico no crescimento e na renovação do setor energético.

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