Unicef Portugal aposta na escuta ativa de crianças em escolas mais vulneráveis

0
4
Unicef Portugal aposta na escuta ativa de crianças em escolas mais vulneráveis

Há escolas em Portugal onde as crianças deixaram de ser apenas ouvidas quando levantam o braço. Agora, são convidadas a opinar e a influenciar decisões.

É essa a missão do VOAR, um projeto-piloto do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef em parceria com a Direção-Geral da Educação e abrange cerca de 11 mil crianças dos seis aos nove anos.

Escolas em territórios desfavorecidos

“A sigla quer dizer Voz, Oportunidades, Ação e Respeito”, explica Francisca Magano, diretora de Programas e Políticas de Infância da Unicef Portugal, acrescentando que o projeto pretende “criar oportunidades para a participação e escuta ativa de crianças para com isso melhorar o clima escolar”.

Ao todo, são 11 escolas espalhadas pelo país, e localizam-se em territórios económica e socialmente desfavorecidos, onde o risco de abandono e insucesso escolar é mais elevado.

“Tentámos, de facto, cobrir várias regiões urbanas e mais do interior, escolas maiores, outras mais pequenas, que estão em territórios de intervenção prioritária, contextos, situações mais vulneráveis, para, de facto, isto ser uma intervenção precoce e de prevenção”, detalha Francisca Magano em entrevista à ONU News.

Diminuir abandono escolar

Essa intervenção, por ser precoce, pode fazer a diferença, não só no aproveitamento escolar, mas no futuro das crianças. “O que queremos é também contribuir para diminuir o abandono, aumentar o aproveitamento escolar, desde o início, apoiando as crianças o mais cedo possível, portanto, neste reconhecimento de que a intervenção, quanto mais precoce ela for, melhores resultados terá ao longo da vida.”

Ao dar-lhes voz, o projeto ajuda a criar um ambiente onde as crianças se sentem seguras, valorizadas, incluídas.  “Quando damos a oportunidade e estamos disponíveis para ouvir o outro e ouvir a criança, ela pede ajuda. E o que nós queremos é ter escolas mais seguras, mais felizes e, para isso, estamos a colocar a criança no centro.

Dino, o embaixador do projeto

Desde o início, a Unicef soube que Dino D’Santiago era a pessoa certa para dar voz ao VOAR. “Um empreendedor social muito preocupado com as causas sociais e com uma perspetiva da educação muito alinhada com a nossa, que a educação pode, de facto, criar oportunidades iguais para todas as crianças, mesmo quando o seu local de origem, o seu meio, nem sempre lhes poderia dar essas oportunidades”, explica Francisca Magano.

A história do músico português, com raízes cabo-verdianas, cruza-se com a missão do projeto, já ele próprio viu o seu percurso mudar graças a uma escola que escutou. “Nós todos conhecemos aquele professor que salvou a vida de alguém. E o Dino D’ Santiago é também a pessoa que nos mostra de como a escola o salvou, de como foi aquele professor que um dia esteve atento e o ouviu, e olhou nos olhos e quis saber mais.”

Mais do que um embaixador mediático

Quando visitou uma das escolas VOAR, Dino D’Santiago não foi apenas uma presença mediática mas alguém com quem os alunos se identificaram. “Para além de simbólico, foi muito bonito de ver as crianças muito curiosas sobre o seu percurso, muito curiosas de perceber de como alguém se transformou também a partir da escola.”

Entre essas histórias, uma ficou na memória dos que o ouviram. “O primeiro dia de escola foi sozinho com a sua mochila e teve até alguma vergonha, dizia-nos, quando chegou à escola sozinho. E nós sabemos que muitas destas escolas em que nós estamos a trabalhar, muitas destas crianças com 6, 7 anos, também vão para as escolas sozinhas, não por opção.”

Desde o início, a Unicef soube que Dino D’Santiago era a pessoa certa para dar voz ao VOAR

Desde o início, a Unicef soube que Dino D’Santiago era a pessoa certa para dar voz ao VOAR

Um embaixador orgulhoso

O músico diz que é um “tremendo orgulho” ser embaixador deste projeto da Unicef e “ouvir todas as vozes, todas as cores que fazem parte deste país que orgulhosamente chamamos Portugal.”

O projeto da Unicef está a ser acompanhado por uma universidade, que fará uma avaliação mais aprofundada no final do piloto mas, para já, os primeiros sinais são encorajadores. “Houve uma melhoria das relações entre crianças e, portanto, diminuição de situações de violência, melhoria no comportamento das crianças.”

“Nesta escola sou feliz”

O impacto, muitas vezes, revela-se em pequenos momentos. “Nós tínhamos uma criança que, há uns tempos, nos dizia: ‘eu que nesta escola sou feliz’ e, de facto, é para isso que nós trabalhamos.”

Francisca Magano lembra que é essencial ajudar as crianças a encontrar um lugar onde se sintam vistas, ouvidas, protegidas. “Só quando uma criança está segura e se sente, de facto, feliz que vai aprender de forma mais significativa”.

*Sara de Melo Rocha é correspondente da ONU News em Lisboa.



Fonte ONU

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui