O avanço da participação de pessoas físicas no mercado financeiro brasileiro é um dos fenômenos mais marcantes da última década. Em 2016, pouco mais de 600 mil brasileiros investiam diretamente em ações; em 2023, esse número superou a marca de 5 milhões de CPFs ativos na B3. Entre eles, cresce o interesse pelo trading, modalidade que promete lucros a partir de operações de curto prazo. No entanto, esse entusiasmo esbarra em um problema estrutural: a ausência de educação financeira sólida no país.
Pesquisas apontam que mais de 70% dos brasileiros não possuem conhecimentos básicos de finanças pessoais, como cálculo de juros compostos, planejamento orçamentário ou diferenciação entre renda fixa e renda variável. Essa lacuna se reflete diretamente no mercado de investimentos: a maioria dos iniciantes que ingressa no trading desiste em poucos meses, acumulando perdas que poderiam ser evitadas com formação adequada.
O debate sobre educação financeira como política pública ganha força. Desde 2010, o Brasil conta com a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), mas especialistas avaliam que sua abrangência ainda é limitada diante da velocidade com que novos investidores chegam ao mercado. A ausência de programas robustos nas escolas, universidades e espaços comunitários dificulta a criação de uma base sólida para que jovens e adultos tomem decisões conscientes.

Segundo o especialista Estefano dos Santos, trader com mais de uma década de experiência e criador da técnica Relógio de Confirmação, a falta de preparo é um dos maiores inimigos do investidor iniciante. “A maior parte das pessoas entra no mercado sem saber como funciona e acaba aprendendo da pior forma, com prejuízos. Se houvesse programas estruturados de educação financeira desde cedo, teríamos investidores mais conscientes e preparados para lidar com riscos”, afirma.
Ele acrescenta que o problema não está apenas no trading, mas no comportamento financeiro em geral. “Quem não sabe organizar o orçamento doméstico dificilmente terá condições de lidar com a volatilidade do mercado. A disciplina que falta na vida financeira pessoal é a mesma que falta na hora de investir. A solução passa por educação e políticas públicas que preparem o cidadão para tomar decisões responsáveis”, completa.
A expansão do acesso digital democratizou o mercado de investimentos, mas também expôs a vulnerabilidade de uma população pouco preparada. Transformar a educação financeira em prioridade nacional não é apenas uma medida preventiva contra golpes ou prejuízos individuais, mas um passo estratégico para o fortalecimento da economia como um todo. Afinal, investidores conscientes não apenas preservam seu patrimônio, mas também contribuem para um mercado mais estável e sustentável.

