Em 2020, durante a pandemia, houve um aumento no crédito de curto prazo à indústria
O volume de crédito destinado à indústria de transformação brasileira despencou 40% entre 2012 e 2024, mostra a Nota Econômica nº 38, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com base em dados do Banco Central, divulgada nesta quinta-feira (23). Os volumes de crédito para as indústrias extrativa e da construção também encolheram: 38% e 29%, respectivamente. Por outro lado, aumentou consideravelmente o crédito para consumidores (97%) e demais setores da economia. Com isso, a participação da indústria no total do crédito da economia brasileira recuou quase pela metade, passando de 27,2% para 13,7% no período. O presidente da CNI, Ricardo Alban, diz que a retração do crédito à indústria é um sinal preocupante e revela um desequilíbrio estrutural na economia.
A queda de oferta do crédito à indústria não se deve a uma redução da oferta total de crédito pelos bancos. O estudo aponta que o volume de operações bancárias manteve participação estável nos ativos das instituições financeiras. O que mudou foi a destinação: nos últimos 12 anos, a fatia destinada a pessoas físicas subiu de 45% para 63% do crédito total, enquanto a das empresas caiu de 55% para 37%. Essa mudança favoreceu o consumo das famílias, mas deixou a produção em desvantagem. O crédito às pessoas físicas praticamente dobrou no período, enquanto o crédito para empresas se manteve estagnado, e, no caso da indústria, recuou fortemente.
O estudo lembra que até 2014 o crédito à indústria era igual ao de 2012. A partir da crise de 2015-2016, houve forte queda, impulsionada pelo encolhimento do setor e pelos juros elevados: a Selic chegou a 14,25% ao ano em 2015. Em 2017, o crédito já havia caído 34% em relação a 2012. Em 2020, durante a pandemia, houve um aumento no crédito de curto prazo à indústria, sustentado por juros baixos e pela necessidade de caixa imediato das empresas diante da paralisação das atividades. Passado esse período, a trajetória de queda foi retomada.
Sem linhas adequadas de médio e longo prazos, a indústria tem dificuldade para ampliar sua capacidade produtiva, incorporar tecnologia e inovar, o que compromete o desenvolvimento econômico de longo prazo do país. Já a dificuldade de acesso ao crédito de curto prazo fragiliza a situação financeira das empresas, trazendo a elas dificuldades em honrar seus compromissos imediatos, causando custos adicionais, incertezas e, no limite, pondo em risco sua sobrevivência, pela perda de saúde financeira. Como a produção nacional não acompanha a demanda estimulada pelo crédito às famílias, a solução tem sido recorrer a produtos vindos do exterior. O aumento de importações prejudica especialmente a indústria de transformação, setor da economia mais exposto à competição externa.
FonteAmanhã