Rastreabilidade e responsabilidade como as certificações sustentáveis reforçam a imagem do Brasil no mercado global

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O agronegócio brasileiro, responsável por quase metade das exportações nacionais, enfrenta hoje um desafio que vai além da produtividade: consolidar sua imagem internacional como uma potência sustentável, ética e transparente. Em um cenário global cada vez mais exigente, certificações socioambientais e sistemas de rastreabilidade se tornaram elementos estratégicos para garantir acesso a novos mercados e fortalecer a reputação do país como fornecedor confiável de alimentos e fibras.

Nos últimos anos, selos como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e o Demand Chain Integrity (DCI) , promovidos pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), transformaram a forma como o Brasil é visto no exterior. Eles certificam que a produção segue padrões internacionais de sustentabilidade, livre de trabalho infantil ou escravo, com gestão ambiental rigorosa e rastreabilidade completa da cadeia produtiva.

De acordo com dados da ABRAPA, mais de 80% da produção nacional de algodão já é certificada pelo programa ABR, consolidando o Brasil como o maior exportador mundial da fibra responsável. Para Vitor Horita, engenheiro agrônomo, ex-tesoureiro da ABAPA (Associação Baiana dos Produtores de Algodão) e membro do Conselho Fiscal da ABRAPA, o impacto dessas certificações vai muito além da imagem: “As certificações criam um elo de confiança entre o produtor e o mercado. Elas mostram que o Brasil é capaz de competir pela qualidade e pela ética. Produzir bem é importante, mas produzir com responsabilidade é o que abre portas no mundo.”

A crescente demanda por transparência na cadeia produtiva agrícola é reflexo de uma mudança global no comportamento do consumidor. Mercados como União Europeia e Japão têm adotado legislações que exigem rastreabilidade total de produtos agrícolas importados, incluindo informações sobre origem, condições de trabalho e impacto ambiental. Essa tendência força os países exportadores a adotarem sistemas mais robustos de monitoramento e compliance.

“O mercado internacional quer saber a história por trás de cada produto. As empresas não compram apenas algodão, soja ou milho, compram valores. É por isso que o Brasil precisa continuar investindo em rastreabilidade e comunicação institucional”, explica Horita.

Além das certificações setoriais, o agronegócio brasileiro também tem se beneficiado de programas como o RenovaBio, que incentiva práticas sustentáveis na produção de biocombustíveis, e o Carne Carbono Neutro (CCN), voltado à pecuária de baixa emissão. Essas iniciativas reforçam a posição do Brasil como referência global em agricultura tropical de baixo impacto ambiental.

Para especialistas, o fortalecimento da imagem do agro brasileiro passa por três fatores: governança, transparência e integração internacional. Nesse sentido, a atuação de associações e lideranças regionais tem sido fundamental. Durante seu trabalho na ABAPA, Vitor participou de missões internacionais em Dubai, Turquia e Bangladesh, promovendo o algodão brasileiro e ampliando o diálogo entre produtores e indústrias têxteis globais. “Essas viagens mostram que o mundo está disposto a reconhecer o esforço do produtor brasileiro. Precisamos comunicar melhor o que já fazemos de forma exemplar”, afirma.

Os resultados já são visíveis. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as exportações de produtos agrícolas certificados e rastreáveis cresceram 22% nos últimos três anos. Além disso, o número de propriedades participantes de programas de boas práticas ambientais aumentou 35% desde 2019.

Essa evolução, no entanto, ainda enfrenta desafios. Parte dos produtores de pequeno e médio porte encontra dificuldades para arcar com os custos das certificações e adequar suas operações às exigências internacionais. Horita acredita que a solução está na cooperação e na educação técnica. “O produtor precisa entender que certificação não é burocracia, é oportunidade. É um investimento que gera retorno econômico e reputacional. Quando todos avançam juntos, o setor inteiro ganha força e credibilidade.”

A consolidação do Brasil como potência sustentável depende, portanto, da continuidade desses esforços. O país tem o clima, o solo e o conhecimento técnico para liderar o mercado global de alimentos e fibras com responsabilidade. O próximo passo é ampliar o alcance das certificações e fortalecer a comunicação institucional do agronegócio no exterior.

“A agricultura brasileira já é sustentável na prática. O que precisamos é provar isso com dados e processos auditáveis. O mundo quer consumir produtos éticos e rastreáveis, e o Brasil tem condições de ser o principal fornecedor dessa nova era do consumo consciente”, conclui Vitor Horita.

O exemplo de líderes e especialistas como Horita mostra que o agronegócio nacional está preparado para competir não apenas em produtividade, mas em valores. As certificações sustentáveis não são mais um diferencial, e sim o novo padrão da agricultura global, um padrão que o Brasil já começou a liderar.

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