Em um mundo marcado por conflitos e pela agitação das plataformas digitais, o alto representante da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, Unaoc, apelou para que os jovens façam do século 21 o último em que a humanidade testemunha guerras.
Em entrevista à ONU News, antes da abertura do 11º Fórum Global da Aliança, neste domingo, em Riad, na Arábia Saudita, Miguel Ángel Moratinos pediu que a juventude, em todas as partes do mundo, recoloque a paz no centro das prioridades globais.
Riad, a capital da Arábia Saudita
Um papel singular
Segundo ele, o futuro depende de uma nova geração disposta a escolher o diálogo em vez da divisão e a humanidade em vez do ódio.
A Aliança das Civilizações é uma das principais plataformas da ONU para o diálogo intercultural. Ao marcar 20 anos de sua criação, Moratinos refletiu sobre como o mundo mudou nas últimas duas décadas.
Quando a Aliança foi criada, em 2005, por iniciativa do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a ordem internacional era unipolar. Hoje, segundo ele, o cenário é multipolar, com potências emergentes no mundo árabe, na Ásia, na África e na América Latina exigindo reconhecimento e voz.
Nesse contexto, Moratinos afirmou que a Aliança ocupa uma posição única para reunir esses atores, e todos os demais, para se sentarem na mesma mesa.
Ele reconheceu, no entanto, que o mundo se tornou mais complexo, o que exige um compromisso ainda maior com a escuta, o diálogo e a compreensão mútua.
IA: oportunidades e desafios
Entre os temas mais urgentes apontados por Moratinos está a inteligência artificial, ou IA, uma força que, segundo ele, moldará profundamente o futuro, mas que também traz riscos significativos.
Ele ressaltou que “uma máquina não tem preocupação com religião, fé ou ética — mas os seres humanos têm”. Por isso, defendeu que a IA permaneça centrada no ser humano, orientada por valores humanos e por decisões humanas.
Moratinos alertou para o risco de as pessoas abrirem mão de sua liberdade e responsabilidade em favor das máquinas. Para ele, “caso a humanidade perca seu senso moral, a tecnologia não será capaz de corrigir o rumo”.
O chefe da Aliança das Civilizações afirmou que a própria razão de existir da instituição é a proteção de valores e princípios éticos.
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“O ódio voltou”
Ao abordar uma das principais preocupações da Aliança, Moratinos falou sobre o ressurgimento do discurso de ódio, especialmente no ambiente digital.
Ele alertou que o ódio começa com palavras, mas leva à exclusão, à violência e aos conflitos. Para enfrentá-lo, a Aliança investe em programas que promovem narrativas alternativas e incentivam a compreensão, com os jovens no centro dessas iniciativas.
Moratinos observou que a juventude atual vive “grande parte da vida” em espaços virtuais, o que pode afastá-la das conexões humanas reais.
Ele acredita que é preciso “trazer o realismo de volta aos jovens”, defendendo um melhor equilíbrio entre o mundo online e a vida concreta, “onde relações, culturas e comunidades realmente são construídas”.
A paz em primeiro lugar
Segundo o líder da Unaoc, “todos estão muito mais preocupados com segurança do que com a paz, mas não haverá segurança sem paz.”
Ele ponderou que “salvar o planeta não faz sentido se a humanidade continuar a se destruir”, citando o alto custo humano dos conflitos em Gaza, na Ucrânia e no Sudão.
Moratinos afirmou que a “paz, com P maiúsculo”, deve ser a principal mensagem do fórum de Riad e o princípio orientador das próximas gerações.
Para Moratinos, são os jovens que podem transformar essa visão em realidade. Somente eles, disse, podem decidir que o século 21 será o último marcado pela guerra.
*Reem Abaza é editora-chefe da ONU News Árabe
Fonte ONU

