A transformação digital deixou de ser uma tendência para se tornar uma questão de sobrevivência estratégica. Em todo o mundo, governos e empresas aceleram a adoção de tecnologias baseadas em nuvem, inteligência artificial e automação de processos. No entanto, esse avanço vem acompanhado de um alerta crescente: a segurança digital e a soberania dos dados estão no centro das preocupações de autoridades e líderes corporativos.
No Brasil, o número de incidentes cibernéticos vem aumentando em ritmo alarmante. Levantamentos do setor indicam que o país figura entre os cinco mais visados do mundo em tentativas de invasão e roubo de informações. A cada nova digitalização de serviços públicos, bancos, redes de saúde e sistemas energéticos, cresce também a superfície de ataque. O impacto não é apenas tecnológico: violações de dados comprometem a confiança da população, a estabilidade institucional e a credibilidade das organizações.
A segurança digital, portanto, deixou de ser uma pauta apenas de especialistas e passou a integrar a agenda de Estado e de grandes corporações. A soberania de dados, conceito que diz respeito ao controle e à proteção das informações nacionais e estratégicas, tornou-se um tema sensível, especialmente após a aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
Para a engenheira de segurança em nuvem Renata Freires Guimarães Lino, que atua na Microsoft em projetos voltados para o Brasil, América Latina e Estados Unidos, o desafio está em equilibrar a inovação com a responsabilidade. “A expansão da nuvem trouxe ganhos inegáveis de produtividade e agilidade, mas também exige um novo compromisso ético e técnico com a governança. Segurança digital não é apenas proteger sistemas; é proteger pessoas, processos e valores”, explica.
Com 14 anos de experiência em tecnologia, Renata é especialista em segurança corporativa, automação e visibilidade de ambientes híbridos. Ela destaca que o modelo ideal para o futuro é aquele em que tecnologia e governança caminham juntos, permitindo que empresas e instituições públicas implementem soluções avançadas sem abrir mão do controle sobre seus dados. “O Brasil e a América Latina estão em um momento crucial. O avanço da nuvem precisa vir acompanhado de uma cultura de prevenção e da formação de profissionais locais capazes de sustentar esse ecossistema de forma autônoma”, afirma.
De acordo com estudos recentes do setor de TI, o custo médio de um ataque cibernético a empresas latino-americanas já supera a marca de milhões de reais por incidente, e os prejuízos vão muito além do financeiro, atingem reputação, credibilidade e segurança jurídica. Para Renata, esse cenário reforça a urgência de investir em automação, monitoramento contínuo e resposta proativa. “Os ataques são cada vez mais sofisticados. É impossível ter segurança sem visibilidade total do ambiente. A tecnologia permite detectar comportamentos anômalos e responder antes que o incidente se transforme em crise”, observa.

A especialista também ressalta que a soberania digital vai além da infraestrutura: está ligada à capacidade de um país formar e reter talentos em segurança cibernética. “Não adianta importar soluções se não houver profissionais preparados para aplicá-las. A soberania nasce do conhecimento. É preciso investir em educação técnica e em políticas públicas que incentivem a especialização de quem está na base do setor”, afirma.
Nos últimos anos, a digitalização de serviços públicos e o uso crescente da computação em nuvem em órgãos governamentais reforçaram a importância de políticas nacionais de cibersegurança. Diversos países já tratam o tema como parte da defesa nacional, e o Brasil caminha na mesma direção. A criação de estratégias integradas, envolvendo setor público, iniciativa privada e academia, é apontada por especialistas como o passo mais urgente para consolidar um ecossistema digital seguro e sustentável.
O debate sobre segurança e soberania digital ganha, portanto, contornos que ultrapassam a tecnologia. Trata-se de uma pauta econômica, política e social. A capacidade de proteger dados e sistemas será determinante para o futuro das nações. “A segurança é o novo alicerce da confiança. Sem confiança, não há transformação digital possível”, conclui Renata.