O que é o teste de Rorschach usado na série Tremembé – 11/11/2025 – Equilíbrio

0
6

No segundo episódio da série ‘Tremembé’ (Amazon Prime), Elize Matsunaga (interpretada por Carol Garcia) é levada para fazer uma avaliação psicológica com o teste de Rorschach. A profissional mostra fichas com manchas, que formam figuras, e pergunta para a detenta o que ela vê, enquanto anota as respostas em uma ficha. Mais adiante, ela descobre que, pelo teste, é considerada uma psicopata.

Com a repercussão da série, o teste de Rorschach despertou curiosidade na internet. Dados do Google Trends mostram que, na semana de estreia de ‘Tremembé’, as buscas pelo tema aumentaram cinquenta vezes, atingindo um dos picos mais altos da última década.

Antes disso, o termo já havia ganhado destaque em junho de 2018, quando o mesmo exame foi usado para avaliar a soltura de Suzane von Richthofen. Na ocasião, o laudo indicou traços de egocentrismo e narcisismo. Na última semana, as principais dúvidas sobre o teste envolveram o que é o exame, como é realizado e como é o seu funcionamento.

A psicóloga Anna Elisa de Villemor-Amaral, uma das fundadoras e membro do conselho da Asbro (Associação Brasileira de Rorschach), explica o que é o teste, como ele funciona e o que seus resultados indicam.

O que é o teste de Rorschach?

Desenvolvido pelo psiquiatra e psicanalista suiço Hermann Rorschach em 1921, o teste é composto por dez fichas com manchas de tintas simétricas para avaliar a personalidade de um indivíduo. Esse tipo de avaliação é chamada de projetiva, ou seja, faz com que o sujeito projete suas próprias emoções e pensamentos em suas respostas.

“A partir das respostas, o trabalho de análise e de interpretação é todo baseado numa codificação internacional, não na subjetividade”, explica Villemor-Amaral. “Não é a resposta em si que é avaliada somente, mas todo o processo mental, processo perceptivo da pessoa.”

As pranchas originais do teste são favoráveis para o uso em avaliação psicológica pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) e só podem ser aplicadas por profissionais de psicologia. Apesar de não ser necessária para a aplicação, a especialização específica sobre o teste é recomendada.

Nos mais de 100 anos da invenção do teste, pesquisadores e especialistas desenvolveram pesquisas para aprimorar o método de interpretação e comprovar a validade do instrumento.

Cada imagem tem um único significado ou uma resposta certa?

Não existe uma resposta “correta” para cada lâmina de imagem. “Não são as coisas que a pessoa está dizendo que é o mais importante, mas sim o caminho e o processo psicológico que ela seguiu para chegar a essa resposta”, diz Villemor-Amaral, complementando que duas pessoas podem ver a mesma imagem, mas por caminhos diferentes.

Até por esse motivo, a psicóloga afirma que não é possível treinar as respostas para fraudar o teste. Ela diz que é muito difícil manipular o teste, por ser complexo e requerer um cálculo preciso da codificação.

Na série, Suzane von Richthofen (interpretada por Marina Ruy Barbosa) recebe de seu advogado uma apostila com as respostas que ela deveria dar na aplicação do teste. A psicóloga percebe que ela está tentando fraudar o exame e reprova a detenta no pedido para a “saidinha”.

O teste por si só pode ser usado para fechar diagnósticos?

A psicóloga explica que o teste de Rorschach é útil para mostrar o funcionamento psíquico de uma pessoa, mas ele sozinho não é decisivo para fazer um diagnóstico. “Existem alguns funcionamentos mais típicos de uma patologia do que de outra, mas é preferencial que se use diferentes formas de investigação para ter mais segurança de um diagnóstico psiquiátrico.”

O teste pode ser útil em contextos que se deseja aprofundar o entendimento sobre o funcionamento de uma pessoa. Na clínica, exemplifica Villemor-Amaral, os resultados podem ajudar a indicar alguma técnica terapêutica que funcione melhor para uma pessoa. Ela também diz que a avaliação é utilizada em altos cargos executivos, para encontrar o perfil para um bom líder, por exemplo.

Para o que serve a avaliação psicológica no sistema prisional?

No sistema prisional, apesar de não cravar o diagnóstico de psicopatia, o teste de Rorschach contribui para a avaliação do comportamento da pessoa que está detida, diz a psicóloga.

“Ele pode dizer, por exemplo, a tendência da pessoa de como se relacionar com os outros, que tipo de relacionamento que aquela pessoa tem condições de estabelecer ou se tem empatia”, afirma.

No entanto, o teste aplicado em um contexto de avaliação prisional é acompanhado por uma carga emocional, observa. “A pessoa pode ficar inibida com medo de o teste pesar contra ela. Então o Rorschach sozinho não deveria indicar progressão de pena, mas ser combinado com outras formas de avaliação.”

Colaborou Vitoria Pereira



Fonte ==> Folha SP

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui