O ex-jogador e hoje comentarista Zé Elias (ESPN) foi vítima de um velho inimigo dos bastidores da imprensa esportiva: o microfone aberto. Sem saber que estava no ar, ele comentou sobre o zagueiro Danilo, do Flamengo, e soltou uma frase que rapidamente virou combustível para polêmica: “Se ele estivesse bem, estaria na Europa. Jogador quando fica velho e não presta mais pra Europa vem pro Brasil roubar.”
O verbo “roubar”, no jargão boleiro, não tem o mesmo peso penal da palavra no dicionário. No futebol, “roubar” significa ganhar sem merecer, estar em campo apenas para faturar, sem entregar desempenho. É uma expressão corrente nas resenhas entre jogadores e ex-jogadores — e, em outro contexto, poderia até passar despercebida. Mas, dita no ar, sem filtro e sem o pano de fundo da informalidade, ela muda de sentido.
Zé Elias reconheceu o erro e pediu desculpas. Fez o que qualquer um faria depois de um “vazamento” desses. Mas o episódio mostra que, no jornalismo esportivo — especialmente o televisivo —, não há mais bastidor seguro. O microfone está sempre aberto, mesmo quando parece fechado.
Não foi o primeiro caso recente de descuido envolvendo o Flamengo. Há pouco tempo, o médico José Luiz Runco também teve um áudio vazado, no qual dizia que a lesão de De La Cruz era “incurável”, o que gerou enorme constrangimento e sua saída do clube.
Num ambiente tão cercado por câmeras, microfones e transmissões simultâneas, o “off” virou uma ilusão. Zé Elias, com sua experiência e bom senso, certamente sabe disso. O pedido de desculpas é o mínimo. Mas talvez sirva também de lição: no mundo da comunicação instantânea, não existe mais o direito de falar “em off”.
Em tempos de microfones sensíveis e redes implacáveis, quem quiser falar sem filtro precisa, antes de tudo, desligar o aparelho — ou, como se diz na gíria dos próprios boleiros, “deitar e chorar”.
Fonte Jornal de Brasília