Com dimensões continentais, diversidade climática e um déficit habitacional expressivo, o Brasil precisa de métodos construtivos mais rápidos, eficientes e sustentáveis. Para a engenheira mecânica Maria Thereza de Almeida Castro, pioneira no uso do Light Steel Framing (LSF) no país, a melhor forma de construção é aquela que alia qualidade e sustentabilidade.
A profissional destaca que o LSF, sistema construtivo industrializado que utiliza perfis de aço galvanizado a frio como estrutura principal de edificações, se destaca no mercado. “A melhor forma de construção é aquela que garante o melhor desempenho, com o menor desperdício de materiais e o menor tempo de execução”, afirma.
A construção a seco, feita com estrutura de aço galvanizado ou madeira, permite projetar componentes de acordo com o clima e a função de cada ambiente, evitando gastos desnecessários. “Visualmente as paredes são iguais, mas podem ter maior desempenho térmico e acústico em áreas como dormitórios e bibliotecas, e menor em locais de pouco uso. É economia sem perda de qualidade”, explica.
Aço ou madeira?
Segundo Maria Thereza, a escolha é mais logística que técnica. Nos Estados Unidos, a madeira predomina em residências unifamiliares, pela cultura do “faça você mesmo” e pela oferta abundante de insumos. Já grandes empreendimentos comerciais e institucionais usam principalmente o aço.
Em regiões litorâneas, a durabilidade da estrutura metálica depende de projeto adequado. “O Light Steel Frame não é receita única: cada obra deve considerar o local e o desempenho esperado”, reforça.

Crescimento e desafios
Nos últimos anos, a produção de componentes para construção a seco cresceu no Brasil, com muitos itens já nacionalizados. A mão de obra também vem se adaptando, atraída por melhores condições e ganhos. “Ainda precisamos ampliar a formação técnica e regulamentar a certificação para sustentar o crescimento”, pontua Maria Thereza.
A engenheira civil Sheila Kopp Webber de Lima, conhecida como a “construtora do McDonald’s”, confirma essa evolução. “Como todo sistema construtivo, o LSF requer projeto, técnica e capacitação. A cadeia produtiva dos insumos cresceu exponencialmente nos últimos cinco anos, assim como o volume de obras e a aceitação do sistema pelo mercado. Hoje, ele é normatizado pela ABNT e já pode ser financiado pela Caixa Econômica Federal”, explica.

Para Sheila, a barreira cultural foi o maior desafio. “O sistema está no Brasil há quase 30 anos e só agora vemos um movimento ascendente. A mudança veio mais pela dor da escassez de mão de obra do que pelo desejo de inovar”, comenta.
Custos e competitividade
Maria Thereza explica que, quando analisado o ciclo completo — da fundação à manutenção — o sistema pode ser até 20% mais econômico que a alvenaria ou o concreto, devido à redução no tempo de obra, menor desperdício, menor consumo de água e fundações mais leves.
Aceitação e futuro
Hoje, a maioria das construtoras já utiliza paredes internas leves em Drywall, facilitando a adoção do LSF, que é a estrutura externa e interna em perfis metálicos leves com fechamentos pré-fabricados. “Não existe mais espaço para obras lentas, com desperdício e alto consumo de água. O setor precisa de processo, procedimento e industrialização”, defende Maria Thereza.
Para o futuro, as profissionais apostam na industrialização de componentes, economia de escala e construção modular, mas alertam: “O maior desafio é educacional. Precisamos formar engenheiros, arquitetos e clientes para entenderem que preço não é o único fator — desempenho e qualidade precisam estar na mesma balança”, finalizam.
Crédito foto: Nenad Radovanovic
(foto1) Sheila Lima e Maria Thereza Castro
(foto em destaque)Sheila Lima em frente da sua 10 ª obra em Light Steel Framing realizada em Campo Largo – PR em 2024
(foto2) McDonald’s de Jaraguá do Sul em dois pavimentos construído em 99 dias